O director geral da organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) afirmou, ontem, em Roma que a fome que assola a região do Corno de África “é inadmissível” nos dias de hoje.
Jacques Diouf sublinhou que é responsabilidade da comunidade internacional “ajudar de maneira eficaz as populações do Corno de África porque é inadmissível que com os recursos financeiros, tecnologia e conhecimento à nossa disposição, mais de 12 milhões de pessoas estejam em risco de morrer à fome”.
O director da FAO considerou ser provável que a crise de fome em cinco regiões da Somália se estenda pelo sul do país até ao final do mês e defendeu que se beneficiem os governos dos países afectados pela fome com os sistemas produtivos necessários para evitar situações iguais no futuro.
“Desde a última reunião da FAO (25 de Julho) a crise na região agravou-se e tornou-se dramática”, disse Jacques Diouf. O director admitiu que as ajudas chegam “lentamente” às áreas afectadas e que as necessidades imediatas “ficam progressivamente satisfeitas”, mas defendeu que é preciso pensar no futuro para que esta crise não volte a acontecer. “Devemos contribuir para o desenvolvimento sustentável e para evitar catástrofes como estas no futuro”, salientou Jacques Diouf.
O director da FAO falava na reunião técnica da organização sobre o acompanhamento da seca e da fome no Corno de África. “Planos de investimento foram aprovados e estão disponíveis, mas ainda falta o financiamento. Se os governos e parceiros doadores não investirem agora, a fome que estamos a tentar combater vai regressar e será uma vergonha para a comunidade internacional” acrescentou.
“Ainda é tempo para ajudarmos estas mulheres, homens e crianças a sair desta crise e enfrentar os desafios de amanhã, restaurando os meios de subsistência mais seguros, diversificados e capazes de resistir aos choques climáticos”, insistiu o director da FAO.
Procura de soluções
Os ministros da Agricultura dos 191 países membros da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e representantes de organizações humanitárias reuniram-se ontem em Roma para encontrarem soluções para a crise humanitária no Corno de África. O encontro vem no seguimento da reunião ministerial de emergência de 25 de Julho, também em Roma, sede da FAO e diante do agravamento e da deterioração da crise de fome desde a realização do encontro.
Em comunicado, a FAO adiantou que o encontro serviu para “identificar programas e projectos dos governos da região do Corno de África e das organizações humanitárias que operam na região, capazes de enfrentar as necessidades imediatas dos afectados pela crise, avaliar as necessidades e as falhas e identificar acções para enfrentar as necessidades imediatas e as causas subjacentes à crise”.
A organização, indica o comunicado, espera igualmente que o novo encontro ajude a abrir caminho para a conferência internacional de doadores, que a União Africana convocou para ajudar as populações afectadas e está marcada para 25 de Agosto.
A nota refere igualmente que foi reiterado o apelo para arrecadar os 1,6 mil milhões necessários para fazer frente à emergência humanitária no Corno de África que, segundo a UNICEF, “desperta especial preocupação devido à situação dos 2,3 milhões de crianças que sofrem de desnutrição”.
Assistência médica
Entretanto, uma equipa da Assistência Médica Internacional (AMI) partiu ontem para a Etiópia para preparar uma missão destinada à assistência médica da população atingida pela crise humanitária. A equipa vai realizar, nos próximos dez dias, “uma avaliação no seguimento de contactos que a AMI tem no terreno”, disse o presidente da associação, o português Fernando Nobre.
A missão visa “identificar um campo onde uma nova equipa da AMI vai desenvolver uma missão humanitária durante seis meses”, disse Fernando Nobre. “A missão essencial é seleccionar o alvo para intervenção. Vamos fazer um levantamento exaustivo para que a segunda equipa tenha todos os meios e tudo para trabalhar”, afirmou.
A segunda equipa deve ser constituída por médicos, uma nutricionista, enfermeiros e um operacional logístico. Na quarta-feira, os membros da Organização de Cooperação Islâmica comprometeram-se, em Istambul, a disponibilizar 350 milhões de dólares para o país mais afectado pela seca,a Somália.
fonte: Jornal de Angola